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Palacete Araújo Guimarães - Biblioteca Municipal de Alcobaça

Palacete Araújo Guimarães - Biblioteca Municipal de Alcobaça

A construção desta residência oitocentista, de arquitetura e inspiração neo-romântica e neo-clássica, muito ao estilo do Brasil de onde o seu proprietário Araújo Guimarães regressou após um período emigrado à procura de uma vida melhor, dá-se em 1870. A casa fixa-se na vizinhança do palacete Bernardino Lopes de Oliveira, de quem Araújo Guimarães era amigo e com quem estabelecera laços familiares após casamento com a irmã deste, D.ª Luísa Lopes de Oliveira.

Araújo de Guimarães desempenhou um papel importante no desenvolvimento industrial local, sendo o seu contributo máximo a Fábrica de Fiação e Tecidos de Alcobaça. A história do edifício está intimamente associado a Júlio Biel, um engenheiro alemão que veio para Alcobaça para proceder à instalação da eletricidade da vila e que acabaria por casar com D.ª Lídia Araújo Guimarães (filha do primeiro proprietário). No final da Grande Guerra de 1914 – 1918, os bens dos alemães seriam expropriados e assim, o palacete que pertencia agora ao casal Biel por herança, foi vendido em hasta pública à sociedade composta por José Magalhães, Elias Matos Branco e Carlos Campeão.

É durante este período que o edifício é adaptado a unidade fabril, incluindo a construção em anexos duma central hidro-elétrica dotada de uma turbina hidráulica com motor Diesel e chaminé. Em 1920 dá-se a constituição da sociedade “Carlos Campeão e Cª, fundada por Carlos Pereira Campeão, um farmacêutico local. Em 1921, tendo por gerentes Carlos Campeão e Emílio Raposo Magalhães, a nova sociedade recebe a designação "Carlos Campeão Lda" e no ano seguinte inicia a comercialização de farinha da marca Cister, bem como a produção de licores e conservas de frutas. Seria inclusivamente entre 1925 e 1930 o período de maior expansão nacional da farinha Cister. Já em 1932, a empresa obtém nova denominação social, passando designar-se pelo nome que lhe granjeou prestígio regional e nacional: "Alimentícia, Lda". Contudo, entre 1939 e 1945 regista-se uma diminuição significativa de toda a produção face à quebra da procura, devido à crise mundial associada à II Grande Guerra Mundial. Em 1950, a instalação de maquinaria mais moderna, adaptada ao incremento da produção de leite condensado e rebuçados fomenta uma nova era de sucesso industrial e comercial. A fábrica da Alimentícia produz agora como primeiro artigo a farinha láctea da marca Cister. Posteriormente, compotas, frutas cristalizadas, licores e ginjas formam o conjunto dos produtos então fabricados pela Alimentícia. Esta unidade industrial pioneira neste ramo de produção, viria a dar origem a uma série de outras fábricas de menor dimensão (propriedade de antigos funcionários), incidindo na mesma gama de produtos. Em 1985 dá-se o encerramento da unidade fabril, permanecendo encerrada até a sua aquisição pela autarquia para mais tarde incorporar a Biblioteca Municipal.

Constituída em 1971, a Biblioteca Municipal de Alcobaça integra, desde 1992, a Rede Nacional de Leitura Pública promovida pelo Ministério da Cultura. A Biblioteca Municipal esteve localizada por um longo período (entre 1972 e o ano 2000) na ala Sul do Mosteiro de Alcobaça de onde seria transferida definitivamente para espaços da autarquia devido às obras de remodelação e beneficiação no espaço monástico, promovidas pelo Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico.

A  aquisição e reabilitação definitiva do edifício da antiga "Fábrica da Alimentícia" pela autarquia daria origem a que a 23 de Novembro de 2001 fosse possível finalmente a instalação da Biblioteca Municipal de Alcobaça neste belo espaço implantado em plena zona histórica da cidade e na confluência dos  rios  Alcoa e Baça. Mais recentemente, entre 2008 e 2009, a sua envolvente beneficiaria igualmente de um projeto de requalificação urbanística a cargo dos Arquitetos Byrne e Falcão de Campos que compreendeu toda a área traseira da Biblioteca Municipal, recuperando uma zona degradada e criando um pequeno jardim no centro da cidade que dá um novo colorido à zona ribeirinha.

O espaço requalificado permitiu recuperar igualmente o espaço da central elétrica que mantém a maquinaria industrial mas que não se encontra em funcionamento.