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Pelourinho de Alfeizerão

Pelourinho de Alfeizerão

A primeira referência a Alfeizeirão data da conquista do seu castelo árabe por D. Afonso Henriques, em 1147. A fortaleza foi então reedificada, com vista à defesa da costa entre o promontório da Nazaré e a península de Peniche, uma vez que a localidade era então porto de mar (mais tarde assoreado). Como couto do Mosteiro de Alcobaça, recebeu dois primeiros forais das mãos dos seus abades, um em 1332, concedido por D. Frei João Martins, e outro em 1422, concedido por D. Frei Fernando de Quental. Seguiu-se foral novo, dado por D. Manuel, em 1514, na sequência do qual se terá erguido um pelourinho.

O monumento, como tantos outros no país, foi derrubado no século XIX, perdendo-se então o rasto das peças que o compunham. Quatro destas foram encontradas em finais de 1966, pelo Dr. Eduíno Borges Garcia, entre uma série de elementos arquitectónicos encontrados durante as obras de ampliação da igreja paroquial de Alfeizerão. A descoberta, relatada numa obra publicada (Eduíno Borges GARCIA, 1975), constava dos dois troços do fuste, um deles partido ao meio e o outro com uma fractura, o capitel, e o remate em pinha. Em 1975 era ainda possível ver, na base do remate, duas torres em relevo. Embora em 1981 os referidos fragmentos ainda estivessem apeados e depositados no cemitério paroquial, a sua reconstrução foi levada a cabo em 1984/1985, segundo projecto de Borges Garcia.

A reconstrução respeita seguramente a tipologia original do pelourinho, quase idêntico ao de Turquel, igualmente antigo couto do Mosteiro de Alcobaça, e muito semelhante a outros da região, como sejam os de Aljubarrota, Maiorga, ou Cela. Sobre soco de três degraus circulares, de parapeito boleado, datando da reconstrução mas seguramente não muito distintos dos quinhentistas, ergue-se o conjunto do fuste, capitel e remate. A coluna assenta sobre um anel ornado com uma fieira de botões, talhado na mesma pedra desse troço do fuste, que faria certamente parte de uma base moldurada de maiores dimensões. O fuste é constituído por dois troços com estrias espiraladas, ambos no mesmo sentido (à direita), com fiadas de quadrifólios entre as caneluras. Os dois troços unem-se ao centro através de um singelo anel liso, da reconstrução. O capitel, sobre um estreito anel liso, é em cesto, envolvido por folhagem de acanto. O remate consta de um corpo tronco-piramidal de base quadrada, ornamentada com flores-de-lis, que figuram igualmente no brasão da ordem de Cister, e decoração vegetalista (cogulhos) em patamares ao longo das arestas, além da representação das duas torres numa das faces, e de uma figura humana com manto em outra.

Para Borges Garcia, as torres evocariam o castelo de Alfeizerão e a Torre de D. Framondo, em Famalicão da Nazaré, ambas já referidas no foral de 1332, e de remotíssima fundação. Note-se que tanto o castelo como a torre, ambos destinados a defesa (e farol) da lagoa de Alfeizerão ou da Pederneira, formada pelo mar que recuava progressivamente na zona, ainda estavam inteiros no reinado de D, Manuel, quando foi levantado o pelourinho. No entanto, se o porto de mar de Alfeizeirão ainda podia abrigar mais de 80 navios de alto bordo em finais do século XVI, a torre já não era utilizada no início da centúria, e os habitantes da região começavam a dedicar-se ao trabalho rural, deixando as actividades ligadas ao mar.

O pelourinho foi novamente derrubado, desta feita por acidente, no dia 7 de Outubro de 2002, quando foi usado como suporte de decorações durante uma procissão. O fuste partiu-se junto ao anel da base, tendo a Junta de Freguesia local guardado as peças numa arrecadação, onde ficaram a aguardar novo restauro. Foram finalmente remontadas em Setembro de 2005, no mesmo local, o largo da Igreja Paroquial de São João Baptista de Alfeizeirão.